Por Andréia Macedo*

Hoje estou aqui para falarmos sobre um tema essencial para o futuro das nossas organizações: a atualização da NR-01 e seu impacto na saúde mental dos colaboradores.
Nos últimos anos, a saúde mental no trabalho deixou de ser um tema secundário para se tornar uma prioridade. O aumento de afastamentos por transtornos como ansiedade, depressão e burnout acendeu um alerta no mundo corporativo e agora, com a atualização da NR-01, as empresas precisam agir de forma mais estruturada para garantir o bem-estar dos seus profissionais.
Para se ter uma ideia, em 2024, o Brasil registrou 472.328 afastamentos do trabalho por transtornos mentais, um aumento de 68% em relação a 2023, atingindo o maior número da última década. (Fonte: Uniad – Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas)
Por isso, quero compartilhar com vocês como o setor de RH pode – e deve – se preparar para essa mudança e transformar esse desafio em uma grande oportunidade.
A NR-01, que estabelece diretrizes gerais de segurança e saúde no trabalho, foi reformulada para incluir novas exigências, com um olhar mais atento para o bem-estar psicológico dos colaboradores.
Com essa atualização, o Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO), agora inclui riscos psicossociais, como excesso de trabalho, pressão por resultados e ambientes tóxicos.
As empresas precisam criar e implementar um plano de ação e prevenção, com medidas para minimizar esses riscos e promover um ambiente de trabalho mais saudável.
Promovendo treinamentos e capacitações, abordando temas como saúde mental e qualidade de vida no trabalho.
Não basta mais apenas cuidar da segurança física dos trabalhadores. Agora, o equilíbrio emocional e psicológico também faz parte da pauta de segurança corporativa.
Com essa atualização, o RH assume um papel ainda mais estratégico. Se antes já era essencial cuidar da cultura organizacional e do clima da empresa, agora isso se torna uma exigência regulamentar.
Cabe destacar algumas ações fundamentais que o RH deve tomar para garantir a conformidade com a NR-01 e, ao mesmo tempo, criar um ambiente mais saudável para os colaboradores.
O primeiro passo é identificar os riscos que impactam a saúde mental dos colaboradores. Por exemplos: jornadas de trabalho excessivas, pressão extrema por resultados, falta de equilíbrio entre vida profissional e pessoal e uma cultura organizacional tóxica ou falta de suporte da liderança.
Para realizar esse mapeamento de riscos, podem ser feitas pesquisas internas, entrevistas e análises de clima organizacional.
Após serem identificados os riscos, é hora de revisar políticas internas e implementar novas práticas que promovam equilíbrio e bem-estar. Como a flexibilização da jornada de trabalho, com o home office ou jornadas híbridas (que alternam entre o presencial e remoto). A revisão de metas e prazos, garantindo que estejam alinhados com a capacidade real da equipe e contar com programas de apoio psicológico, oferecendo suporte profissional para os colaboradores.
Para isso o RH precisa atuar como facilitador entre os interesses da empresa e a necessidade de um ambiente de trabalho saudável.
Mas, não adianta criar políticas se as lideranças não estiverem preparadas para aplicá-las. É imprescindível treinar os gestores para reconhecer sinais de sofrimento emocional nos times e oferecer suporte adequado.
Isso pode se dar através de workshops, treinamentos, visando desenvolver a inteligência emocional, a capacidade de dar feedbacks construtivos e como identificar sinais de burnout. Um líder bem preparado pode evitar problemas antes que eles se tornem crises.
Essas mudanças trazidas pela NR-01 precisam ser comunicadas de forma clara para todos os colaboradores. Seja por meio de campanhas internas, palestras ou materiais educativos sobre autocuidado, equilíbrio emocional e combate ao estresse no trabalho.
A empresa precisa abrir canais de escuta, como pesquisas anônimas e espaços de acolhimento, para que os profissionais possam expressar suas dificuldades sem medo de represálias.
A implementação da NR-01 não é um processo que acontece da noite para o dia. É preciso acompanhar constantemente os indicadores de saúde mental da empresa e ajustar as estratégias sempre que necessário, realizando pesquisas de clima organizacional periódicas, o monitoramento de afastamentos e o índice de turnover.
Construir um ambiente de trabalho saudável envolve um processo contínuo de melhorias.
Muitos empresários podem ver essa atualização da NR-01 como mais uma burocracia ou um custo adicional. Mas é preciso abrir os olhos para enxergar oportunidades ao invés de obstáculos.
Cuidar da saúde mental dos colaboradores não é apenas uma exigência legal, é uma estratégia de negócios inteligente. Empresas que investem no bem-estar de seus colaboradores têm maior produtividade, menos afastamentos e uma equipe mais engajada. Uma pesquisa realizada pela Gallup revelou que colaboradores felizes no trabalho são 21% mais produtivos.
Um ambiente saudável atrai e engaja talentos, reduzindo custos com rotatividade e aumentando a competitividade no mercado. O estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) aponta que empresas que investem em saúde mental têm um retorno médio de R$ 4 para cada R$ 1 investido devido à redução do absenteísmo e aumento do desempenho.
A saúde mental agora faz parte da segurança do trabalho e o RH precisa se preparar para essa nova realidade. Isso é um chamado para que as empresas assumam um papel ativo na promoção de um ambiente de trabalho mais humano e sustentável.
Agora, eu pergunto a vocês: Suas empresas estão preparadas para essa transformação?